Um novo envelhecer
Apesar de diversos avanços, como a recente aprovação em 2003 do “Estatuto do Idoso”, o envelhecimento ainda é visto com conotação negativa por uma parcela significativa da nossa sociedade. Em um mundo regido pelo bombardeio da publicidade voltada para o novo, que estabelece padrões quase obrigatórios de beleza e comportamento, nos quais tudo deve parecer jovem e exuberante, não é de se estranhar a existência desse preconceito.
O homem sempre buscou formas de prolongar a juventude. A finitude das coisas e a fugacidade da vida é tema recorrente na obra de nossos maiores poetas. Todos desejamos a manutenção da nossa plenitude física e mental. E não há nada de errado nessa busca. O equívoco está em desconsiderar o envelhecer como parte inexorável de nossa condição humana.
Entender o processo de envelhecimento é a melhor maneira para convivermos e aceitarmos esse aspecto natural da vida. Afinal, envelhecemos desde o nosso primeiro choro na maternidade.
O conceito de envelhecimento saudável, formulado há alguns anos por estudiosos do assunto, supõe a interação da saúde física e mental integrada a um bom convívio social e familiar, além da independência econômica e de locomoção para a vida prática. Pessoas precisam se sentir sadias e ativas enquanto envelhecem. Por esta concepção, o envelhecimento passa a ser visto como um prolongamento da vida útil e também como pressuposto para mudanças de atitudes, seja em qual idade estivermos.
A prática de atividade física de forma regular, o acesso à cultura, a preocupação com a espiritualidade, além do monitoramento médico frequente, são alguns dos fatores que contribuem para a melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, para um envelhecimento mais saudável.
O governo, apesar da lentidão costumeira em apresentar políticas públicas, tem se mostrado sensível à questão do idoso e muitas de suas ações já contemplam o paradigma acima. Entidades como o Sesc, a USP e a Unifesp desenvolvem excelentes trabalhos embasados neste novo conceito. Na tentativa de oferecer opções interessantes e com resultados efetivos, também a iniciativa privada se movimenta, com a criação de uma nova alternativa para esse público, baseada em aprendizados obtidos com países já acostumadas, há décadas, a fazer um trabalho com os idosos, como Cuba e Espanha.
Não é asilo, não é casa de repouso e nem traz algum traço comum a esses dois modelos, pois trata o idoso como um ser ativo, consciente de suas capacidades, ganhos e perdas, além de apto a concretizar novos sonhos.
As estatísticas apontam que, em 12 anos, mais de 15% da população brasileira já terá mais de 60 anos, ultrapassando os 25% até o meio deste século. Não dá mais para varrermos o problema para debaixo do tapete. Afinal, todos chegaremos a essa fase. Por que não atingi-la de forma saudável e livre de preconceitos?